A sujeira por trás da indústria do tabaco e o meio ambiente
As tentativas da indústria do tabaco de <i>greenwashing</i> não podem esconder o quão prejudicial é seu impacto sobre o meio ambiente e os esforços de sustentabilidade.
Na próxima vez que você der uma caminhada, olhe para o chão. Quantas bitucas de cigarro você vê? Provavelmente, não serão poucas. Bitucas de cigarro são o lixo mais comum do planeta – 4,5 trilhões são descartadas todos os anos. Embora os resíduos do cigarro possam ser a forma mais visível de degradação ambiental para a qual a indústria do tabaco contribui, eles são apenas uma maneira pela qual a indústria cria danos permanentes ao meio ambiente e, subsequentemente, às pessoas que vivem nele (todos nós – fumantes e não fumantes).
O impacto prejudicial que as Big Four – British American Tobacco (BAT), Imperial Brands (IB), Japan Tobacco International (JTI) e Philip Morris International (PMI) – têm no planeta não recebe a atenção urgente que merece. Um grande motivo para isso são as chamadas atividades de responsabilidade social corporativa (RSC). Isso inclui atividades como doações a organizações ambientais ou parcerias com governos para tratar de questões de sustentabilidade locais.
Embora a RSC pareça algo positivo, uma das principais razões pelas quais a indústria do tabaco se envolve nesse chamado comportamento filantrópico é para distrair dos danos esmagadores que as empresas de tabaco causam. Talvez uma das razões pelas quais vejamos as empresas de tabaco realizando tanta RSC com foco na sustentabilidade seja porque há muitas coisas que elas não querem que o público perceba.
Os danos da indústria do tabaco ao planeta, em números
Os danos ambientais causados pela indústria do tabaco começam muito antes de um produto usado ser jogado no chão. O cultivo do tabaco causa erosão do solo e contribui fortemente para o desmatamento.
De acordo com um relatório de 2021 da Truth Initiative, aproximadamente 600 milhões de árvores são cortadas todos os anos (cada árvore produz papel suficiente para apenas cerca de 15 maços de cigarros) e grandes quantidades de produtos químicos tóxicos são liberadas no meio ambiente. Em 2018, cerca de 430 toneladas de produtos químicos tóxicos foram liberados de fábricas de tabaco apenas nos Estados Unidos.
Depois, há a energia usada. Em 2017, a JTI relatou ter usado mais de 2.600 Gigawatts-hora (GWH) de energia. Em 2018, a PMI relatou um uso anual de energia de cerca de 2.500 GWH e a BAT relatou o mesmo em 2020. Para ajudar a explicar quanta energia isso significa, a Organização Mundial da Saúde compara esse gasto de energia ao “equivalente a fabricar cerca de 2 milhões de automóveis”.
Há a poluição do ar causada pelo acedimento e fumo dos produtos das empresas de tabaco e, finalmente, há os resíduos pós-consumo. Muitas dessas 4,5 trilhões de bitucas de cigarro que são descartadas todos os anos acabam em rios, lagos e oceanos; elas são o item mais comum encontrado em limpezas de praia. O dano que essas bitucas descartadas causam é de longa duração: Os filtros, que contêm um tipo de plástico, liberam produtos químicos tóxicos na água e podem permanecer na fonte de água por até uma década. É fácil presumir que a exposição a produtos químicos tóxicos prejudicaria a vida selvagem que vive nessas fontes de água, mas os detalhes são preocupantes. O mesmo relatório da Truth Initiative afirma que “…os produtos químicos que vazaram de uma única bituca de cigarro (embebidos por 24 horas em um litro de água) liberaram toxinas suficientes para matar 50% dos peixes de água salgada e água doce expostos a ela por 96 horas.”
Enquanto o problema avassalador do lixo do cigarro persiste, os novos produtos de tabaco e nicotina no mercado estão criando outra crise ambiental preocupante. Além de bitucas de cigarro, em breve poderemos encontrar praias cobertas do plástico encontrado em cigarros eletrônicos e produtos de tabaco aquecidos. Nick Mallos, do programa Trash-Free Seas da Ocean Conservancy, disse à ABC News , “.. infelizmente esperamos ver cada mais desses produtos nas praias, a menos que alguma intervenção seja feita.”
A chamada RSC que a indústria do tabaco usa para distrair o público e os legisladores
As principais empresas de tabaco têm carteiras polpudas, e muitas vezes fazem uma exibição pública de usá-las para financiar várias iniciativas focadas na sustentabilidade. Entre 2014 e 2019, a PMI gastou mais de US$ 12 milhões financiando projetos ambientais e atividades de RSC em todo o mundo (uma quantia irrisória em comparação com os lucros de US$ 180 bilhões da empresa no mesmo período). Notavelmente, parte desse financiamento foi para “aumentar a conscientização” sobre o lixo; no entanto, a empresa continua produzindo e vendendo bilhões de cigarros por ano, muitos dos quais acabarão como lixo.
A JTI também canalizou mais de US$ 2 milhões nos últimos cinco anos para programas de RSC por meio de sua JTI Foundation. De acordo com a lista de projetos da Fundação, muitas iniciativas relacionadas à sustentabilidade se concentram em áreas como assistência a desastres e gestão de risco de enchentes – projetos relacionados ao meio ambiente que não são necessariamente impactados diretamente pela indústria do tabaco. Essa é provavelmente uma maneira pela qual a indústria pode se associar a iniciativas de sustentabilidade, sem chamar a atenção para as áreas nas quais ela tem um efeito negativo maciço.
Além de doações diretas, algumas empresas de tabaco se unem a governos para apoiar projetos de sustentabilidade locais e colher grandes benefícios de relações públicas no processo. Em março de 2021, a Imperial Tobacco Madagascar firmou uma parceria de três anos com o governo do país para ajudar a construir cinco parques botânicos. Um grande benefício para a Imperial Brands, a empresa ganhou atenção favorável à parceria em uma cerimônia que contou com a presença de ministros, governadores e representantes do presidente.
A necessidade urgente de que defensores em todas as áreas ajam
A indústria do tabaco deveria estar mais preocupada com o grande número de mortes que seus produtos causam a cada ano e, por sua vez, cessar a fabricação, marketing e venda de seus produtos viciantes. Infelizmente, embora seus clientes possam morrer, os produtos que os mataram continuam causando danos às pessoas e ao planeta. Tentar aliviar esse dano contínuo com RSC amplamente divulgada está entre os atos de duplicidade mais destrutivos do setor.
Os defensores do meio ambiente devem colocar a indústria do tabaco no topo de sua lista dos mais procurados. Se vários setores se unirem para revelar os verdadeiros danos ambientais que a indústria perpetua e pressionarem os legisladores por mudanças, melhores regulamentações podem ser implementadas, incluindo aquelas que proíbem a RSC da indústria do tabaco ou a promoção de tais atividades. A saúde do planeta—e das pessoas—só pode melhorar a partir daí.