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Documento vazado da Philip Morris Japão revela estratégia para obter apoio ao produto de tabaco aquecido IQOS

As intenções da PMI com o IQOS parecem ir muito além do que afirmaram.

(Bath, Reino Unido e Nova York, 27 de junho de 2024) — Enquanto uma das maiores empresas de cigarros do mundo, a Philip Morris International (PMI), tenta se reposicionar em uma era de queda das taxas de consumo de tabaco, ela está acelerando seus esforços para atrair novas gerações de consumidores para seu produto de tabaco aquecido IQOS ( HTP). Uma nova análise de documentos vazados da Philip Morris Japan (PMJ) realizada pelo grupo global de monitoramento da indústria do tabaco, STOP(Stopping Tobacco Organization, sigla em inglês), revela que a PMJ planejou meticulosamente influenciar decisores políticos, profissionais de saúde, empresas e consumidores com objetivo de obter uma aceitação generalizada do IQOS e aumentar as vendas.

Today Japan, Tomorrow the World: Plano de marketing vazado da Philip Morris Japão para o IQOSanalisa um documento interno de estratégia de negócios de abril de 2019 da subsidiária japonesa da PMI e detalha como a PMJ planejou uma estratégia multifacetada para influenciar decisores políticos em nível local, regional, nacional e até internacional. O resumo da STOP também cita evidências de que a PMI pode estar implementando táticas semelhantes em outros países, criando potencialmente um novo tipo de epidemia de tabaco com seu IQOS HTP.

Philip Morris International claims IQOS will bring an end to smoking

Embora a PMI afirme que o IQOS é apenas para adultos fumantes, o documento de marketing vazado sugere que a PMJ estava tentando alcançar um público muito mais amplo para seu novo produto viciante, a fim de ajudar a “acelerar a aquisição” de novos usuários do IQOS. Isso se soma a um conjunto de evidências que mostram que a PMI comercializa o IQOS para atrair o público em geral, não apenas os fumantes. Relatórios investigativos anteriores sugerem que o IQOS é comercializado para jovens e até mesmo crianças em idade escolar.

O documento da PMJ também confirma que a PMJ estava trabalhando para sustentar sua posição como segunda maior vendedora de cigarros no apão, ao mesmo tempo em que promovia sua narrativa “sem fumaça”.

De acordo com o documento, a PMJ planejava fazer lobby para que a utilização de IQOS seja permitida em locais onde fumar é proibido, para que as alegações da indústria não comprovadas em torno da redução de danos recebam apoio e para que os HTP sejam tributados a um imposto favorável para garantir a acessibilidade ao produto. Os alvos para endosso das alegações incluíam políticos, grupos médicos, a Agência Japonesa de Gestão de Incêndios e Desastres e grupos de hotelaria que, se garantidos, poderiam aparentar uma aceitação orgânica e generalizada do IQOS. O objetivo de estar presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio reflete uma tática conhecida da indústria de fazer publicidade de produtos de tabaco nocivos e viciantes em eventos esportivos – associando esses produtos à saúde, enganando os consumidores e atingindo crianças e jovens.

“Está cada vez mais claro que as últimas promessas da Philip Morris International não podem ser levadas ao pé da letra”, disse Jorge Alday, diretor da STOP. “As intenções da PMI com o IQOS parecem ir muito além do que afirmaram, e a ideia de promovê-lo através dos Jogos Olímpicos de Tóquio é apenas um exemplo gritante. Essa revelação acrescenta peso às crescentes evidências que questionam a credibilidade das afirmações da PMI sobre suas intenções e seus produtos. É perturbador, pois ela sugere um padrão mais amplo de táticas enganosas, potencialmente lançando as bases para um novo capítulo na epidemia do tabaco”.

A análise da STOP cita reportagens que sugerem que a PMI pode estar tentando alcançar uma influência semelhante em outros países, com contato com ministros do governo e conselhos locais no Reino Unido, uma rede nacional de lobistas nos EUA, planeja vender o IQOS em pubs, bares e clubes na Austrália, visando a indústria do turismo e hospitalidade na Grécia, e tentativas de recrutar dentistas como defensores do IQOS na Alemanha.

Outros documentos vazados levantam preocupações sobre a ciência financiada secretamente no Japão

Documentos adicionais da Philip Morris Japão revelaram pesquisas financiadas secretamente, realizadas antes e no mesmo período do documento de marketing. Uma análise desses documentos por pesquisadores do Grupo de Pesquisa de Controle do Tabaco da Universidade de Bath foi publicada hoje em Nicotine and Tobacco Research. Eles revelam que a empresa financiou secretamente um estudo realizado por acadêmicos japoneses e contratou uma consultoria japonesa em ciências da vida para realizar um extenso trabalho científico, a fim de criar um ambiente favorável para o IQOS.

“A ciência tendenciosa e as mensagens científicas turvam o ambiente de informação, tornando mais difícil para os decisores políticos e para o público fazerem escolhas informadas”, disse a Dra. Sophie Braznell, pesquisadora associada do Departamento de Saúde da Universidade de Bath e principal autora do artigo acadêmico. “Continuam surgindo evidências que contradizem as afirmações da PMI de que a empresa e seus produtos podem reduzir o tabagismo e os danos relacionados. Consumidores, cientistas, jornalistas e decisores políticos devem ser extremamente céticos em relação à PMI, à sua ciência e aos seus chamados produtos de “risco reduzido””.

Entre em contato com a assessoria de imprensa do STOP para obter mais informações ou para falar com um porta-voz do STOP.

Notas aos editores

O IQOS não é isento de riscos, nem isento de fumaça

Embora a PMI comercialize o IQOS como “livre de fumaça”, cientistas independentes concluíram que as emissões do IQOS se enquadram nas definições de aerossol e fumaça. E, de acordo com uma pesquisa publicada pela própria PMI, pelo menos 80 produtos químicos foram encontrados exclusivamente nas emissões do IQOS ou em quantidades superiores às da fumaça do cigarro convencional. Destes, quatro foram identificados como possíveis ou prováveis carcinógenos humanos; 19 outros produtos químicos geraram alertas em uma ferramenta, (Q)SAR, que foi concebida para prever a segurança química, e nove produtos químicos adicionais foram identificados como sendo de preocupação toxicológica.

Mercado de tabaco do Japão

A Japan Tobacco International tem historicamente dominado o mercado japonês de cigarros e afirma que continua a deter aproximadamente 60% do mercado. A PMI ocupa o segundo lugar, estimando-se que seus cigarros representam algo entre um quinto e um quarto do mercado. De acordo com o Relatório Global da OMS sobre Tendências na Prevalência do Uso de Tabaco 2000–2030, as taxas de consumo de tabaco entre pessoas com 15 anos ou mais têm diminuído constantemente no Japão, de 31,7% em 2000, para 27,2% em 2005, 23,6% em 2010, 20,4% em 2015 e 17,7% em 2020.

Cigarros eletrônicos que contêm nicotina são ilegais no Japão, o que significa menos concorrência para produtos de tabaco aquecido. Estima-se que esses produtos representem mais de um terço do mercado de tabaco do Japão, com o produto IQOS da PMI tendo uma participação estimada de 70%.

As regulamentações de controle do tabaco são mais brandas no Japão comparado a outros países. Existem muitas isenções às leis antifumo do país (implementadas em 2020), a publicidade do tabaco é ‘autorregulada’ pela indústria em vez de ser totalmente banida, e os preços dos cigarros continuam entre os mais acessíveis do mundo. O país ocupa o terceiro pior lugar na proteção de políticas contra a influência da indústria, de acordo com o Índice Global de Interferência da Indústria do Tabaco.

Sobre STOP

STOP é uma rede de organizações acadêmicas e de saúde pública que operam globalmente como parte da Iniciativa Bloomberg para Reduzir o Uso do Tabaco. A STOP conecta especialistas em todos os aspectos dos negócios da indústria do tabaco para expor e combater seus esforços incansáveis para vender produtos nocivos e viciantes.